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Em entrevista, Nenel conta que a autenticidade de um boteco ultrapassa o simples fornecimento de bebidas e se torna um ponto de encontro onde a atmosfera é carregada de história, personalidade e cultura

A simples atitude do dono do bar de estar atrás do balcão pode ser o diferencial para o boteco continuar sendo espontâneo, criando uma experiência única para os clientes. Foto: Lucas Macedo/ Bares e Resuarantes

Os bares representam mais do que simples locais de encontro; eles são símbolos culturais de celebração e alegria, onde amigos e amantes se reúnem. Além disso, eles encarnam uma resistência à homogeneização da vida urbana, mantendo viva a essência da boemia em botecos e botequins, que são espaços que evocam uma identidade profundamente brasileira.

Para conversar sobre o papel dos bares, restaurantes e botequins para a manutenção de uma cultura popular, a equipe do O Café e a Conta entrevistou Nenel, criador do Baixa Gastronomia. Confira a entrevista a seguir:

Bares&Restaurantes: Para começar a nossa conversa, gostaria que você contasse mais sobre sua jornada. Você está com esse projeto Baixa Gastronomia desde 2009, mas como você começou nessa atuação?

Nenel: Sou graduado em jornalismo pela Universidade FUMEC, de Belo Horizonte, em 2006. Além disso, também era músico. Naquela época, sentia falta de escrever e sempre fui apaixonado pela cultura popular e pela atmosfera dos botecos.

Considerando ainda o momento de grande glamour na gastronomia, decidi criar o blog Baixa Gastronomia em 2009.

O nome vem de uma brincadeira, pois só se falava em alta gastronomia. Então foi uma forma de exaltar toda essa cultura muito forte que temos aqui no Brasil, dos bares, biroscas, botequins.

Em 2009, o palco era outro, principalmente nas redes sociais. Você tem noção do impacto do seu trabalho como vitrine desses lugares que estão abertos há 50, 60 anos, resistindo e que agora estão sendo descobertos por novas gerações através do seu projeto?

Eu acho que sim, mas ao mesmo tempo, não. Acho importante sempre dizer que eu não sou crítico gastronômico, nem tenho interação de ser.

No Brasil, não temos uma tradição de crítica tão consolidada como nos Estados Unidos, com veículos como o New York Times e sua equipe de críticos gastronômicos. No entanto, mesmo considerando essa diferença, mantenho um cuidado especial ao escrever sobre algo, especialmente se não gostei. Prefiro não publicar do que expressar uma opinião negativa. As redes sociais são muito poderosas, então opto por não postar.

Acredito que temos que ter muito cuidado com os tipos de lugares. Escrevendo sobre bares, por exemplo, faço questão de destacar as características específicas de cada lugar em meu texto, especialmente quando se trata de estabelecimentos mais familiares, que geralmente são menores e têm menos funcionários para atender e cozinhar.

Isso é importante para evitar que um número excessivo de pessoas frequentem o local, pois poderia sobrecarregar a capacidade de atendimento e causar insatisfação. Infelizmente, há casos em que alguns frequentadores não compreendem e acabam reclamando nas redes sociais.

Sobre storytelling e autenticidade, você enxerga que alguns bares são um simulacro de uma certa autenticidade? Hoje a gente vê um segmento que simula essa espontaneidade, talvez com uma mercearia antiga, por exemplo, alguns que brincam um pouco com a nossa memória afetiva, você enxerga isso com bons olhos?

Eu particularmente não gosto, eu entendo, mas eu não curto. Acho que é um grande cenário e eu não gosto de bar temático; é uma questão minha.

Eu converso com os donos de mercearias, de bares antigos, às vezes que precisam fazer alguma reforma para melhorar algo no funcionamento ou até mesmo no cenário. Eu aviso que hoje em dia, vários bares buscam copiar essa estética, então o empreendedor passa a entender o que ele tem na mão.

Acho interessante mostrar essa estética para a nova geração, onde muitas vezes o cara tem vergonha do local que ele tá, ou até da comida, mesmo sendo uma comida muito boa e é legal mostrar isso.

Falamos mais cedo sobre a questão da memória e democratização dos espaços, você falou dos lugares que servem uma gastronomia mais mineira, por exemplo. Qual o papel dos bares e restaurantes nas cidades, no caso, de ser um representante da culinária de uma certa região?

Isso é muito importante, o boteco segura muito essa tradição gastronômica, acho fundamental. A comida tem um poder significativo, especialmente em diversos restaurantes, como os aqui em Belo Horizonte, que servem diariamente pratos típicos, como feijão tropeiro nas quartas-feiras, por exemplo. Também existe uma memória afetiva, é uma algo que não dá para lutar contra.

Além disso, gosto muito de ressaltar que o boteco tem um algo mais espontâneo, de ser algo orgânico, até na questão da decoração, que cada um possui sua característica de forma mais orgânica e autêntica.

Confira abaixo a entrevista completa com Nenel para o podcast O Café e a Conta!

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