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No podcast O Café e a Conta, o chef e consultor especialista em gestão de pessoas, Kaká Gomes comentou a importância de boas práticas de liderança no setor e como elas influenciam diretamente o bem estar dos colaboradores

Kaká Gomes durante a gravação do podcast O Café e a Conta. Foto: Lucas Macedo

A saúde mental no setor de alimentação fora do lar, especialmente entre colaboradores dentro da cozinha, é um tema de crescente importância. A pressão por produtividade, horários intensos e o ambiente altamente competitivo podem gerar esgotamento.

Promover um ambiente de trabalho mais saudável, com práticas de apoio psicológico e incentivo ao equilíbrio entre vida pessoal e profissional, é fundamental para melhorar o bem-estar dos profissionais e garantir um melhor desempenho das equipes.

E para conversar sobre esse assunto, o podcast O Café e a Conta recebeu o chef Kaká Gomes, também consultor especialista em gestão de pessoas, processos e treinamento de lideranças em cozinhas. O episódio tem a participação especial do psicólogo e CEO da empresa Infinite, Paulo Jelihovschi.

Confira um trecho da conversa a seguir:

O Café e a Conta: Kaká, gostaria de começar nosso bate papo trazendo a reflexão que você fez em sua conta do Instagram sobre saúde mental na cozinha. Você cita que não existe um baú no fim do arco-íris na gastronomia. Para você, qual é a principal dificuldade nessa questão?

Kaká Gomes: Esse é um tema que vem se tornando mais forte com a evolução da civilização, a velocidade das coisas, e em todos os setores, só que na gastronomia nós estávamos preocupados nas últimas duas décadas em tecnologia, em processos, lucratividade e em preparar um ambiente de empreendedorismo que fosse propício para a evolução do setor, e acabamos deixando de lado a questão gente.

Após a pandemia houve um colapso, uma quebra de paradigma de valores na sociedade, e eu percebo que já havia uma curva de tendência de mudança, de encarar esse tema na sociedade.

Eu percebo que estamos chegando nessa discussão cada vez mais forte, estamos começando a enxergar a pessoa, o indivíduo na gastronomia. De colaboradores que trabalham na pia, o auxiliar, o cozinheiro, aos chefes, enfim, todo o ecossistema percebe-se que ninguém está cem por cento.

Após a pandemia estamos tentando segurar as pontas mentais, então esse post veio pra apontar isso, e eu percebo que existe uma realidade a ser tratada, só que só o fato de nós estarmos aqui falando sobre como isso representa uma falta que existia até então e que agora vem sendo coberto já é um bom início.

É um grande desafio, e é mais evidente a importância de falar sobre saúde mental para não colapsar no operacional do setor que já está sendo impactado. Acredito que a regra é clara, ou você se adapta ou você fica para trás.

O Café e a Conta: A mão de obra sempre foi um grande desafio pro setor de bares e restaurantes; o salário não é o único fator capaz de segurar o funcionário, é necessário ter uma cultura de qualidade de vida para todos os colaboradores. Paulo, gostaria que você explicasse um pouco melhor essa ideia.

Paulo Jelihovschi: O Brasil sempre se preocupou muito com o desenvolvimento dos gestores, ou seja, de como fazer gestão, e temos bons gestores, mas nos preocupamos muito pouco com o líder.

Temos poucas escolas de liderança e poucas pessoas preocupadas com pessoas, e qual é a diferença entre gerenciar e de liderar? Gerenciar é quando você está focado na tarefa, e liderar é quando você está focado nas pessoas.

Então às vezes o chefe, o dono do restaurante, está focado em fazer as coisas acontecerem do jeito certo, com os processos corretos, com as ferramentas corretas, mas o fator humano ainda não entrou na roda, ou vem entrando tem muito pouco tempo, quando olhamos por um prisma histórico um pouco maior.

Paulo Jelihovschi: Tenho uma pergunta para vocês, qual é o principal fator para que as pessoas escolham ficar ou sair das empresas onde elas estão?

Kaká Gomes: Acho que hoje em dia ninguém mais fica por causa apenas pelo dinheiro, isso tem se mostrado cada vez mais como um dos menores fatores.

Olhamos para as pessoas e é impossível não ter essa visão de personalização da gestão, de entender cada indivíduo, porque no final das contas cada um está naquele ambiente por um motivo.

O que mais roda em torno desse cara, além da vontade de ter um salário? Hoje, tendo os meus seguidores, os meus mentorados, tanto líderes quanto liderados, eu percebo que não é nem de perto, só o dinheiro.

Óbvio que todo mundo sai de casa pra trabalhar, para ganhar dinheiro, só que existem outras coisas, e no final do dia eu elenco outros itens que são importantes na hora desse fator decisório entre ficar aqui e lá.

Existem sim aqueles que estão trabalhando no setor porque precisam pagar suas contas e sustentar a família, mas existem aqueles que estão ali porque realmente gostam, que querem aprender.

O Café e a Conta: A diferença entre gerir negócios, processos e gerir pessoas, é você olhar pro indivíduo e saber reconhecer nele em que ponto ele está, pra onde ele quer ir, como ele se comporta e aprender, para assim entender onde você vai levar esse cara.

Paulo Jelihovschi: Quando olhamos para os estudos, basicamente porque as pessoas ficam ou saem das empresas, o salário geralmente está entre a quarta e a sexta posição.

Existem outras questões ligadas à condição de trabalho, à própria atividade que a pessoa exerce, o ambiente, mas o fator número um sempre são os colegas de trabalho.

Você está com pessoas que te fazem crescer, aprender coisas novas, que de alguma forma te colocam para cima. Ninguém aguenta todo dia ir pro trabalho com gente que não gosta, com gente que te põe pra baixo, com gente que não quer bem.

Um fator que sempre evidenciamos é a importância do cuidado de umas pessoas com as outras. E isso no ambiente gastronômico pode ser uma falha, pois nem sempre as pessoas têm tempo de cuidar umas das outras.

Existem três grandes fatores que fazem as pessoas trabalharem. A primeira delas é a necessidade. As pessoas trabalham porque elas precisam pagar suas contas. O segundo fator é o fator de carreira, ou seja, a pessoa quer crescer em determinada profissão; ela tem uma visão, um plano pra vida dela.

E a terceira é o chamado. É o sujeito que não se vê fazendo outra coisa, ele sente que nasceu para executar tal função. É muito importante entendermos se o colaborador está trabalhando por um chamado, para fazer aquela atividade que ele julga ser importante.

E os estímulos que eu preciso dar pra essa pessoa são outros. Aquele que está lá porque realmente é o lugar que ele achou para as necessidades básicas dele ou porque ele acredita que aquele seja o trabalho da vida.

Assista a entrevista completa com Kaká Gomes no podcast O Café e a Conta!

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